Friday, September 30, 2005

Leave

"As a tear comes from inside, I feel like I'm gonna drown..."

Que estúpida condição humana é esta, que só nos permite atribuir valor àquilo que perdemos?
Quero uma máquina do tempo. Quero voltar atrás e ter-vos dado o devido valor, quando ainda ia a tempo.
Porque é que tenho sempre que me armar em parva, com a mania que sou forte e que não preciso de ninguém?
E agora, estou sozinha. Mereço. Sei que sim.
Só queria reconquistar a vossa amizade e provar-vos que preciso de vocês. Como é que vos posso mostrar que vos adoro?
Não faz qualquer sentido sem vocês... E uma tristeza profunda abate-se sobre mim. E não sei se tenho força de braços para não a deixar esmagar-me.

Thursday, September 29, 2005

Fica a História
Dos mortais, sobre (i)mortais.
Ficam reis e imperadores,
Ficam cientistas e escritores.
No meu lugar, que descortino?
Somente um zero.
"É o destino..."
Não!
Imponho-lhe o que eu quero!
E sou eu que o desafio.

Wednesday, September 28, 2005


Estive a pensar (para variar...) e concluí, cheia de sapiência, que perder um amigo por nos recusarmos a pedir desculpa, por não darmos o braço a torcer nem que seja um bocadinho, é uma estupidez monumental.
Não é humilhante pedir desculpa, embora durante muito tempo eu tenha pensado que sim. É muito mais humilhante persistir num erro e sermos uns enormíssimos burros. Pedir desculpa é o extremo acto de coragem, é admitirmos que estamos errados, que aquilo que fizemos em determinada altura não devia ter sido efeito. É a prova de que se é suficientemente inteligente para se distinguir o certo do errado. Admitir que não somos perfeitos, mas que erramos, e não é pouco. É avançar mais uns passos em direcção à perfeição. Perfeição esta que nunca é atingida, porque a vida não nos dá tempo para cometer todos os erros possíveis e extrair deles o conhecimento para a perfeição.
E é por isso que peço desculpa.
À Tânia.
À Tita.
À Joana.
À Ana Paula.
A Ana Paula já está convencida. Ainda faltam três... Vai ser um trabalho épico.

Tuesday, September 27, 2005



"Não gosto de pessoas como tu." - ela.
"Como eu, como?" - eu.
"Tira as conclusões que quiseres. Para segundos sentidos, tens tu jeito." - ela.

Hum... Bastante elucidativo. Se tinhas alguma coisa contra, falavas. Eu não levava a mal. Pensava e talvez mudasse aquilo de que não gostas em mim.
Mas cometeste um erro. Viraste-me as costas e não tiveste a frontalidade de me dizer o que pensavas. Escondeste-te atrás de uma frase ambígua que não leva a lado nenhum.
Normalmente, falo muito e faço muito... pouco. Até ao momento em que me fazem perder a cabeça. Não tenho instintos vingativos. Há excepções.
Tentei ser tua amiga. Não deixas. Não queres.
Até ouvir uma certa palavra da tua boca, passaste para o rol dos desprezados. Fiz tudo o que podia por ti, ajudei-te em tudo o que pude... Os erros servem para aprendermos. Eu cometo muitos, mas não costumo repeti-los. Em dois anos, devias-me ter conhecido suficientemente bem para saber que não suporto faltas de sinceridade.
Espero, qualquer dia, voltar a chamar-te amiga. Qualquer dia...

Friday, September 23, 2005

Carta

Deito-me, sozinha, na cama, olhando o tecto como se ele não estivesse lá, olhando o céu negro e as estrelas, todo o Universo, até ao Infinito, esperando encontrar-te lá, já que me foges aqui.
Pergunto-me durante quanto tempo continuarei neste jogo do gato e do rato, em que te persigo como se tivesse um tapete rolante debaixo dos pés. Em que quanto mais tento, menos consigo.
Às vezes, penso no que seria ter-te na minha vida. Ser abraçada por ti e poder usar o teu verbo livremente, sem restrições. Queria que me envolvesses na tua cápsula protectora, em que nada me poderia atingir.
Porque é que não ficas comigo? Sei que te desprezei e ignorei durante muitos anos, mas que te custava ficar comigo, agora que sei o quanto preciso de ti?
É tão bom sonhar! E tu és o meu sonho preferido... Mas a vida não se alimenta de sonhos frustrados, mas sim de realidades. A maior parte dos sonhos não se torna realidade, assim como muitas das realidades nunca chegaram a ser um sonho. Mas tu podias tornar-te...
Já ouvi dizer que eras egoísta... Posso confirmá-lo. E és, também, incapaz de perdoar quem te desprezou. Não te comoves, tens prazer no sofrimento. És sádico e pérfido. E, no entanto, toda a gente te quer.
És antítese de ti próprio.
Mas preciso de ti...
__________________________________
Pergunta normal. De quem é que esta doida, neurótica, está a falar? Para quem?
Liebe, Love, Amour... Amor. Uma carta ao Amor. Onde quer que ele esteja. Quer me seja intrínseco ou extrínseco. Sou doida. Sei que sim. Mas até os doidos precisam de se expressar.

Thursday, September 22, 2005

Sonhos

Esta semana, fartei-me de cogitar. Após muito fumo e altas temperaturas na minha caixa craniana, cheguei à brilhante conclusão que tenho de ter objectivos na vida. Se eu não tiver objectivos que me façam ir mais além de mim própria, corro o risco de me atolar na minha própria inércia e não conseguir sair de lá.
Portanto, estes são os meus objectivos/sonhos a curto, médio e longo prazo:
  • Entrar em Medicina, no Porto (FMUP ou ICBAS), o que passa por conseguir tirar uma nota minimamente satisfatória à disciplina que é o meu Heptacephallus vulgaris: Química;
  • Acabar o curso (convém, não?);
  • Tirar uma especialidade – ainda não sei qual, mas quero algo que me permita trabalhar diariamente no limite ténue que separa a vida da morte. Preciso de algo que me desafie diariamente, senão, sou envolvida pelos tentáculos implacáveis da preguiça e não me consigo libertar;
  • Quero, pelo menos uma vez na vida, passar algum tempo fora daqui (entenda-se, Portugal), não em férias, mas com a AMI, Médicos sem Fronteiras e afins – pelas mesmas razões do objectivo anterior;
  • Quero escrever um livro – ou melhor, quero publicar um (escrito está ele quase, em princípio acabadíssimo antes do fim do ano);
  • Quero manter muito do que tenho hoje, ou seja, não quero perder as pessoas que me rodeiam todos os dias e que me fazem feliz. Não quero que caminhos diferentes signifiquem separação. Afinal de contas, a amizade pode criar atalhos entre esses caminhos opostos, não é?;
  • Quero desencalhar, de preferência antes dos 80 anos. É de compreender que ter um directo, a partir do lar, com o jornalista da TVI a perguntar como é que aconteceu uma história de amor com aquela idade, não é agradável. Além disso, não quero os putos, que estiverem a ver televisão, a rirem-se do meu sorriso desdentado e da decadência dessa reportagem.

Tuesday, September 20, 2005

Capítulo II

Contra todas as expectativas, Ana sai do poço (vide post anterior) no próprio dia em que lá caiu.
Ajudas inesperadas do exterior chegaram com cordas suficientemente fortes para erguer os 51 quilos de pura desmotivação, preguiça e todas as maravilhosas qualidades que as Anas Amarais costumam ter.
E lá veio a Ana pelas paredes do poço acima, com a certeza de que não quer lá voltar.
Vai dar o melhor de si, o que quer que isso dê. E, no fim, se conseguir o que quer, há festa.
Se não, tem, ao menos, o mérito de ter feito o melhor que pôde. Não se quer arrepender de nada. E a balança já pesa o suficiente. Não precisa de uma consciência obesa para pesar ainda mais.

Monday, September 19, 2005

"O arrepiante começo" - parte 1 da trilogia "Morte Precoce"

Estava uma manhã ventosa para os lados de Gondomar, com o vento a assobiar estridentemente nas persianas. Às sete horas, um espírito sonâmbulo levanta-se da cama, num sepulcral silêncio, depois de, com uma forte marretada, ter calado o despertador do telemóvel à força.
Quarenta e cinco minutos depois, Ana está em frente ao pequeno-almoço, interrogando-se por que raio não saiu da escola no fim do 9º ano e foi arrumar rolos de papel higiénico para as prateleiras do Modelo® de Rio Tinto.
Após uma hora e meia de Biologia, outra de Matemática e mais quarenta e cinco minutos de Psicologia, a imagem dos rolos de papel higiénico milimetricamente arrumados e organizados por grossura, textura e marca volta com força à mente fraca de Ana.
Sente-se perdida por estar num lugar que não é o seu.
Sente-se desmotivada por ter toda a gente a zumbir-lhe nos ouvidos, qual enxame, que as médias de medicina subiram (como se não tivesse cérebro para raciocianar que de 18.59 para 18.68, se sobe 0.09 valores).
Sente que nunca vai ser aquilo que quer e que, sem a mínima ideia de segundas opções, os rolos de papel higiénico vão povoar a sua vida.
Sente-se irritada com a conversa de exames, programas, cargas horárias insuficientes. E pior do que isso, a conversa repetitiva de "quem não estuda, não faz o 12º ano". Acho que qualquer aluno do 12º tem neurónios suficientemente poderosos para chegar a essa brilhante conclusão, não precisa que lhe repitam isso durante toda a manhã.
Ana sentia-se cheia de força, nem há uma semana atrás. Sentia-se poderosa, sentia que tinha objectivos definidos. E, numa manhã, foi-se tudo.
Não entende como é que um conjunto de professores conseguiu, do nada, por artes mágicas, metê-la num poço fundo, em que, ao longe, vê apenas uma luzinha que representa o fim da trilogia. Mas pode nunca atingir essa luz, ou ela ser somente uma ilusão de óptica, qual miragem, que a engana sobre o fim do seu percurso.
Precisava que alguém lhe desse a mão e a ajudasse a trepar pelo poço acima. Mas estão todos tão ocupados e não quer incomodar ninguém, que eles têm um percurso igualmente duro para fazer.

Please, Ana, don't look back in anger. The wasted time has just taught you that the time is not to waste.

Friday, September 09, 2005

A grande demolição

Eu cada vez tenho mais a certeza que vivo num país absolutamente terceiro-mundista, a nível cultural, social e de mentalidades.

Depois de duas semanas com grandes parangonas acerca da demolição das duas torres da Torralta, em Tróia, chegou finalmente o grande dia. A TVI, sempre na linha da frente no que toca à exploração mediática de tudo e mais alguma coisa - desde a gravidez da menina de 14 anos que o namorado abandonou, passando pela transmissão exclusiva do casamento da senhora Maria e do senhor José, com 92 anos cada um e que vivem no lar de não sei onde, até aos famosos directos quando começa a cair uma gota de água dentro de casa de uns idosos de 80 anos que vivem numa aldeia com 5 pessoas -, aproveitou, imediatamente, para fazer mais um directo (pergunto-me qual será o orçamento para a gasolina das carrinhas dos directos; deve ser bem elevado, presumo.)
Às 16h00 liguei a televisão a fim de observar o espectáculo. Música de fundo que a mim me fez um filme épico, género "Gladiator". De repente, ouço uma voz: "25 seconds".
"Ai, carago! Queres ver que a NASA vai lançar um vaivém, daqui de Portugal?"
- Wrong guess. Logo a seguir vem a voz off, em português.
10, 9, 8, 7...
O povo em delírio absoluto!
"O ano novo chegou mais cedo..."
...6, 5, 4, 3, 2, 1...
BRUMMM!!
E uma estrondosa ovação!!
O "demolidor Sócrates", como dizia hoje o Jornal de Notícias, tinha acabado de accionador o detonador. Ah, homem!
E o povo, de binóculos cravados na ocular (distribuídos pela SONAE, é preciso salientar), ali, de plantão, dispostos a apanhar com o pó na tromba, só para poderem ver o espectáculo do século.
Logo de seguida, a TVI repetiu 20 vezes a cena... Até à exaustão, diga-se.

É triste. Dedicaram horas a falar da porcaria da demolição, durante esta semana. Hoje, à hora do almoço, foram dedicados 5 minutos, se tanto, à divulgação de uma descoberta, nos EUA, que pode revolucionar o tratamento dos milhões de diabéticos por todo o mundo. Inalação de insulina, em vez de administração por injecção.

E viva a TVI, que contribui tanto para a nossa formação como cidadãos informados.
E, já agora, preparem-se, porque vem aí a "1.ª Companhia". Pelo que percebi, a tropa dos famosos. Parece que já estou a ver o José Castelo Branco, enquanto passa por baixo daquelas redes de arame farpado, a rastejar:
- Ai, senhor capitão, querido! Não se importa que me levante só um bocadinho para desentalar o fio dental do rabiosque?

Wednesday, September 07, 2005

No outro perguntaram-me o que é que eu queria seguir. Respondi, com a maior das naturalidades: "Medicina".
Tive que ouvir o que não gostei nada: "Agora toda a gente quer ir para Medicina..."

Eu não sou toda a gente. Não quero ir para Medicina por estar na moda, por querer ganhar muito dinheiro (aliás, nem sequer quero trabalhar numa clínica), por ser uma profissão elitista para pseudo-génios, por ter prestígio...
Só mesmo para quem não me conhece.
Quero medicina porque gosto, porque desde pequena fico fascinada com os instrumentos da minha pediatra (que agora já não a tenho), porque quero ajudar as pessoas, porque me atrai a ideia de ter a vida das pessoas nas minhas mãos e poder salvá-la. Porque gosto de tudo aquilo que se relaciona com a Vida e com o corpo humano. Porque aquilo de mais parecido com medicina que tenho é biologia e adoro. Porque não me imagino a fazer mais nada na vida.
Porque quero ser médica e médica vou ser. Nem que entre para a faculdade com 50 anos!

Thursday, September 01, 2005

Potsdam, Alemanha

Quando morrer, quero ter uma campa assim.
Isto é um cemitério de soldados russos que morreram durante a 2.ª Guerra Mundial a tentar libertar a Alemanha (nomeadamente, Potsdam, a 30 km e pico de Berlim) dos Nazis. Podiam ter sepulturas grandiosas e imponentes, frias, que nos fizessem recuar e tremer perante a ideia de morte. Mas não. Têm sepulturas simples, com uma lápide pequenina, e onde crescem heras. É como um jardim. E é lindo. Perante isto, quem é que precisa de jazigos de granito, cinzento e frio, com velas tremeluzentes e flores de plástico para durar em bastante tempo? Quem é que precisa dessas tretas? Até dá vontade de fugir a sete pés.
É um lugar calmo e tranquilo, em que não temos medo da morte. Pelo contrário. Aceitamo-la naturalmnte. E era assim que devia ser.